O poema "Carnaval" de Manoel de Barros é para se apreciar com calma. É que Dionisos se porta muito discreto no Pantanal. A idade do poeta não permite devaneios de corpo. Nós também não podemos mais saracotear com força como no tempo de antanho. Adotemos agora o tempo de Apolo: tempo de trilhar veios de sobriedade, movimentos lentos, palavras ágeis... Se assim Deus for servido.
CARNAVAL
1. ENUNCIADO
Agora não posso mais priscar na areia quente
que nem os lambaris que escaparam do anzol.
Não posso mais correr nas chuvas na moda que
os bezerros correm.
Nem posso mais dar saltos-mortais nos ventos.
Agora
Eu passo as minhas horas a brincar com palavras.
Brinco de carnaval.
Hoje amarrei no rosto das palavras minha máscara.
Faço o que posso.
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